Não é novidade para ninguém que o mercado de petróleo está vivendo dias terríveis em função de sucessivos escândalos proporcionados pela maior empresa do país. É visível o constrangimento do corpo de funcionários, assim como de toda a diretoria, vendo a marca da Petrobrás transferida do noticiário econômico para o policial. Nada está resolvido e o conselho de administração da empresa terá que tomar decisões ainda mais graves no que diz respeito às novas obras que a estatal precisará fazer para cumprir seu plano de negócios e aumentar sua produção de óleo e gás. A seguir seu próprio manual de procedimentos, nenhuma empresa envolvida nos escândalos revelados poderá fazer obras para ela por um bom período.
Isso significa que as empresas Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Engevix, Mendes Júnior, Iesa, OAS, UTC e Toyo-Setal, citadas por Paulo Roberto Costa como envolvidas diretamente no caso, e outras, com dificuldades nas obras que realizaram, como Alusa, Jaraguá, Fidens, Contreras, GDK, Multitek, MPE, Conduto, Tenace, Produman, Ecman, entre outras, não poderão estar com o nome ativo no famoso CRCC, o cadastro da Petrobrás. Com isso, sobrarão poucas, muito poucas empresas brasileiras de engenharia capacitadas a levar à frente obras complexas que o futuro quase imediato exige. O Brasil poderá ter uma invasão de empresas estrangeiras que devem associar-se a outras empresas brasileiras para que a estatal cumpra o seu planejamento.
O Petronotícias procurou a Petrobrás para que a empresa respondesse a esta questão crucial para a engenharia brasileira, mas depois de 12 dias sua assessoria optou por responder que “não faria comentários”. Diante de tanta confusão, tantas denúncias expondo as entranhas negras da estatal, que parecem longe de terminar, entende-se, é difícil planejar o futuro. Mas a empresa, que parece ter virado a Geni do Chico Buarque de Hollanda, deveria estar melhor preparada para planejar o futuro.
Fala-se na possível saída da presidente Graça Foster, que contrariou muita gente ao assumir o cargo. Só não conseguiu tirar o presidente da Transpetro, até agora licenciado, Sergio Machado, indicado pelo Senador Renan Calheiros. E está pagando caro por isso. Ela mudou toda a diretoria e refez todo o procedimento de pagamentos, tirando das obras o aval de pagamento dos claims.
A empresa não melhorou o seu controle, mas usou o recurso da burocracia ao concentrar a aprovação das reivindicações dos aditivos apenas no diretor de engenharia. Propositalmente ou não, represou bilhões de reais do que as empresas reivindicavam e o resultado foi a quebra de algumas empresas de engenharia epecistas e a inviabilização de outras tantas. Mas a consequência ainda mais grave foi o desordenamento em cascata de todo o mercado de fornecedores. A política imposta por Foster não teve a sensibilidade de ver que as grandes empresas sofrem, mas as pequenas quebram, desempregam, levam pavor aos pequenos e médios empresários. A estatal viu isso, mas deu beijinho no ombro para elas.
Com a troca da presidência ou não, a empresa terá que mudar a qualidade do seu relacionamento com as suas empresas fornecedoras. Há diversos exemplos de entrega de contratos a despeito da ameaça de perder o CRCC, que é o passaporte para trabalhar para a Petrobrás. Algumas delas, na atual circunstância, nem querem mais trabalhar para a estatal.
A presidente Graça Foster está descobrindo na pele que não basta apenas ser honesta e bem intencionada para dirigir uma empresa como a Petrobrás. Mas, o expurgo que está sendo feito pode tornar a empresa mais leve para se trabalhar, assim que todos os fatos que envergonham os bons funcionários da estatal sejam esclarecidos e devidamente punidos. Serão novos patamares, novos valores, novos horizontes e perspectivas, se o governo não ceder à tentação de dividir a empresa para servir a interesses políticos e reacender reencarnações do filho do Gepeto em seus mais valiosos cargos.
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