terça-feira, 25 de novembro de 2014

Alberto Youssef presta novo depoimento na operação Lava Jato

Doleiro é peça-chave nas investigações da operação.
Documentos podem comprovar o pagamento de propina no esquema.



Arte Operação Lava Jato 14/11/2014 (Foto: Editoria de Arte / G1)





Está previsto para hoje mais um depoimento do doleiro Alberto Youssef, peça-chave nas investigações da operação Lava Jato, sobre a corrupção na Petrobras. A Polícia Federal já gravou mais de cem horas de depoimento com ele.
Um dos advogados do doleiro disse que ainda não foi informado se o depoimento faz parte da fase final do acordo de delação premiada ou se Youssef será interrogado para esclarecer dúvidas que surgiram durante a fase mais recente da operação.
A defesa do doleiro também pediu a suspensão temporária do processo em que ele é réu no caso Labogen – o laboratório que, segundo as investigações, era usado pelo doleiro para enviar remessas ao exterior de forma ilegal.
Os advogados alegam que qualquer decisão no caso só pode ser tomada depois que o Supremo Tribunal Federal decidir se aceita ou não o acordo de delação premiada entre o doleiro e a Justiça Federal.
Os representantes do Ministério Público Federal estão na Suíça para tentar recuperar o dinheiro que teria sido desviado de obras da Petrobras.
Os procuradores querem identificar e bloquear todas as contas que possam ter sido usadas no esquema de corrupção. O Ministério Público da Suíça vai fornecer extratos de uma conta do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Nesta conta estão depositados cerca de US$ 27 milhões.
Os procuradores brasileiros também estão atrás de provas que confirmem que outros investigados da operação Lava Jato mandaram dinheiro para o exterior. Entre eles, Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como um dos operadores no esquema de corrupção; Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras; e Pedro Barusco, que era gerente-executivo de serviços da estatal e já aceitou devolver cerca de US$ 100 milhões.
O repasse de valores para o exterior foi mencionado no depoimento de Júlio Camargo, executivo da empresa Toyo Setal. Ele disse que em 2008 repassou R$ 6 milhões para a diretoria de serviços da Petrobras e que a maior parte do dinheiro foi depositada no banco Credit Suísse, em contas indicadas por Renato Duque e Pedro Barusco.
Júlio Camargo também afirmou, em depoimento, que transferiu de US$ 12,5 milhões a US$ 15 milhões para Fernando Soares e que esse dinheiro foi para um banco no Uruguai e para outras contas indicadas por Fernando Soares no exterior.
Os advogados do vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, entraram com um pedido na justiça para desbloquear R$ 4 milhões que o empresário mantinha em cinco contas em bancos do Brasil e do exterior.
De acordo com a defesa de Almada, a decisão do juiz Sérgio Moro, que ordenou o bloqueio das contas, estabeleceu um limite de R$ 20 milhões. No caso de Almada, este valor já foi alcançado com o bloqueio do dinheiro que estava em apenas uma das contas.
O juiz Federal Sérgio Moro declarou que assim que tiver informações mais precisas sobre os valores encontrados nas contas do empresário vai liberar o que exceder o limite de R$ 20 milhões.
O ex-diretor da Petrobras Renato Duque nega participação em crimes e o recebimento de vantagens indevidas. Os advogados de Fernando Soares e Pedro Barusco não quiseram se manifestar. O Jornal Hoje não conseguiu contato com a defesa de Paulo Roberto Costa, que cumpre prisão domiciliar.
Provas de propina
A defesa do executivo Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, que está preso em Curitiba, entregou para a Justiça Federal documentos que podem comprovar o pagamento de propina no esquema de corrupção na Petrobras. Segundo os advogados do executivo, um dos pagamentos foi feito depois que a operação Lava Jato começou. Foram 20 notas emitidas nos últimos quatro anos. Ao todo, R$ 8.863.000.
Os advogados dizem que a Galvão Engenharia foi forçada a pagar a propina para a LFSN Consultoria e Engenharia, empresa de Shinko Nakandakari, que se apresentou como emissário da diretoria de serviços da Petrobras, onde Renato Duque era diretor e Pedro Barusco, gerente-executivo.
A defesa de Erton Fonseca diz que, sem o pagamento à consultoria de Nakandakari, os contratos da Galvão Engenharia com a Petrobras estariam ameaçados. Os valores, segundo os advogados, eram estipulados de maneira arbitrária, ameaçadora e ilegal.
“Nós ganhamos os contratos de maneira lícita. Após a Galvão ganhar o contrato, ai sim que ela sofreu a ameaça, a coação, que caso não pagasse os valores que lhe eram obrigados, que lhe eram solicitados, simplesmente não iriam dar prosseguimento aos contratos”, relava o advogado da Erton Fonseca José Luiz de Oliveira Lima.
Comprovantes mostram que o dinheiro não foi depositado em contas da LFSN, mas em nome de parentes de Nakandakari. O último pagamento foi feito no dia 25 de junho deste ano, três meses depois que a operação Lava Jato foi deflagrada.
Hoje, os advogados de Shinko Nakandakari desmentiram as irregularidades e pediram à Justiça para ter acesso aos documentos da investigação. Os advogados também informaram que o empresário quer colaborar e está à disposição.
O juiz federal Sérgio Moro negou que esteja ocultando nomes de pessoas com foro privilegiado - como políticos - só para manter o processo na Justiça Federal. Ele afirmou num despacho que "o objeto deste processo não envolve o crime de corrupção de agentes políticos, mas sim crimes licitatórios, de lavagem de dinheiro e, quanto à corrupção, apenas dos agentes da Petrobras. Quanto a eventuais crimes de corrupção de agentes políticos, estes são de competência do Supremo Tribunal Federal e que já dispõe das provas pertinentes da colaboração premiada."
A Petrobras admitiu pela primeira vez que está sendo investigada pela SEC, órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, equivalente aqui no Brasil à Comissão de Valores Mobiliários. A Petrobras disse que recebeu uma notificação da SEC na última sexta-feira, com um pedido de envio de documentos relativos a uma investigação da empresa. A estatal declarou que vai atender as autoridades públicas americanas, como tem feito com as autoridades brasileiras.

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